A pandemia do Coronavírus tem imposto muitas restrições e perdas na vida das pessoas, adultos e crianças. Estas restrições tem causado inúmeros prejuízos no bem estar, no desenvolvimento e na saúde mental.
Alguns neuropediatras tem relatado um aumento nos diagnósticos de Autismo em crianças pequenas, pois observam um aumento significativo no atraso dos marcos de desenvolvimento normal. São crianças com atrasos na comunicação, no brincar funcional, no desenvolvimento motor e até cognitivo. Sem contar no aumento de ansiedade, desatenção, agitação das crianças confinadas em casa, muito tempo sem escola e sem interação com outras crianças.
Pode uma pandemia ser responsável por um diagnóstico?
O TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) afeta o sistema nervoso provocando dificuldade de comunicação, dificuldade com interações sociais, interesses obsessivos e comportamentos repetitivos.
Se pensarmos nas rotinas, ou falta delas, em que as crianças foram submetidas com o início da pandemia: fechamento das escolas, distanciamento dos familiares e amigos, confinamento em casa com irmãos e pais fica fácil compreender os atrasos no desenvolvimento. Atrasos estes que, dependendo da idade e qualidade, estão configurando os diagnósticos ou, pelo menos, os riscos de um autismo.
Muito preocupante esta situação porque, em alguns casos de crianças que já apresentavam um atraso, estes prejuízos interferem no desenvolvimento normal de uma criança instalando perdas significativas que deixarão marcas na e para a vida.
É muito importante que as famílias e pediatras fiquem atentos aos marcos de desenvolvimento de cada idade e não deixem de buscar uma intervenção terapêutica se os sinais aparecerem. Não se pode esperar para fechar um diagnóstico porque aí podemos ter perdido janelas de oportunidade no desenvolvimento que não se abrem mais. A terapia, na área que for a mais indicada, desenvolverá um plano terapêutico para intervir e estimular esta criança, bem como orientar os pais e escola no manejo e intervenção adequados.
Acreditar que a retomada das aulas com a interação de colegas e professores será o suficiente para resgatar este desenvolvimento também é arriscado porque estaremos observando e comparando crianças com as mais diferentes estruturas e comportamentos, o que pode nos dar uma “medição” equivocada.
O ideal é observar como anda a comunicação das crianças, se ainda não fala ou parou de falar, se uma fala infantilizada, incompreensível, repetitiva. Perguntar como foi a volta ao convívio com outras crianças, se divide brinquedos, se fica ansioso, se apresenta comportamento agitado ou introvertido, se agride outras crianças. Perceber se os movimentos amplos e finos estão coordenados e atendendo às demandas de correr, pular, trepar, recortar, pinçar, sentar com postura. Identificar se as respostas aos desafios cognitivos envolvendo um brincar simbólico, uma contação de história, execução de jogo estruturado e criatividade com jogos não estruturados está dentro do esperado para a faixa etária.
Se algumas destas aprendizagens estiver com prejuízo busque ajuda terapêutica. Não é vergonha levar seu/sua filho/a ao terapeuta, é sinal de amor e cuidado.
Janete C. Petry
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote