MÚSICA E CÉREBRO: UMA PAIXÃO ANTIGA

MÚSICA E CÉREBRO: UMA PAIXÃO ANTIGA

O primeiro instrumento musical encontrado tem quase 40 mil anos, nos mostrando que o cérebro humano vem se relacionando com a música faz muito tempo e o desenvolvimento desta arte se transformou em uma linguagem de comunicação universal. Aliás, a música é tão antiga na  vida do homem que é anterior  a própria linguagem.

        O cérebro gosta muito de música, é apaixonado, e quando submetido a ela inicia um processo de abertura de várias “janelas" digamos assim: a janela das emoções, a da cognição e também a das reações físicas, entre outras. A música, assim como a linguagem, é um de nossos traços exclusivos já que nenhuma outra espécie possui esses dois domínios organizados da maneira como o são nos seres humanos.

       Nosso cérebro é rapidamente envolvido pela música e o sentimento de empatia faz com que iniciemos um processo de relação com ela: o corpo se mexe, batemos o pé, a mão, cantarolamos, lembramos de alguém ou de alguma situação, ou ainda somos tomados por algum sentimento! 

       Não há como ser imparcial e não há um sistema que nos impeça de escutar. Se não queremos comer, fechamos a boca; se não queremos olhar, fechamos os olhos, podemos tampar o nariz, mas se não queremos escutar precisamos de um esforço maior pois não temos um dispositivo natural de "fechamento" deste sistema ficando vulneráveis à musica que insiste em entrar.

       Escutar música é muito bom, e fazer é melhor ainda!

Criar ou se envolver no fazer musical provoca uma série de sinapses, estimulando a comunicação entre as partes do cérebro, isso porque a linguagem musical transita por um espaço específico e pode criar um caminho diferente do tradicional (seguido pela palavra, por exemplo). O cérebro vai agir de forma diferente da usual para entregar uma informação musical, compreendê-la ou realizar uma tarefa como tocar e cantar. Isso ocorre porque os dois hemisférios são convocados a trabalhar simultaneamente: o hemisfério direito é o lado da melodia, do lúdico, do simbólico e o lado esquerdo trabalha mais na questão da letra, da mensagem que a música está carregando através das palavras .

Quando falamos de cérebro precisamos lembrar da plasticidade neural, ou seja, da capacidade que o sistema nervoso tem de modificar a sua estrutura em decorrência de padrões de experiência a que é submetido. Na experiência musical diferentes funções cerebrais são ativadas: função auditiva para escutar e perceber o ritmo, os timbres, a harmonia; a função motora para tocar um instrumento; a função cognitiva e emocional para interpretar e dar sentido.

A música é um sistema de inúmeras probabilidades, cada uma delas com potência para abrir diferentes janelas: 

"... a música, por causa de sua natureza abstrata, desvia o ego e controles intelectuais e, contactando diretamente os centros mais profundos, revolve conflitos latentes e emoções, trazendo-os à tona, e que podem então ser expressos e reativados por meio dela" (Taylor e Paperte, 1958,p.252). 

Mas como a música afeta nosso cérebro?

Construída da relação de aspectos como melodia, harmonia, ritmo, intensidade, altura e timbre, é levada até o córtex onde haverá uma representação distinta para cada um destes aspectos, e através de sinapses e caminhos específicos o som vai ativar também o sistema límbico, responsável principalmente pelas emoções.

Se a música tem papel fundamental no desenvolvimento da habilidade de remapear conexões cerebrais pela neuroplasticidade do sistema nervoso, modificando estruturas e funções, e criando novos estímulos mentais e aprendizados, podemos enumerar diversos benefícios que essa linguagem é capaz de deflagrar. 

Pacientes neurológicos, oncológicos e psiquiátricos podem ser tratados pela música através da Musicoterapia com grandes ganhos. Memória e raciocínio, melhora do humor, diminuição da ansiedade e depressão, redução do estresse e hipertensão, motivação, afetividade e socialização. Crianças com diferentes transtornos são altamente beneficiadas na questão da aquisição e melhora da linguagem, da fala, da interação social e cognição. Ainda podemos citar a melhora na expressão corporal, a estimulação da coordenação motora e nos casos de Parkinson pode auxiliar na redução do tremor e organização da marcha.
Hoje inúmeros estudos neurocientíficos seguem pesquisando esta maravilha que é a música mas sabemos que ainda há muito a ser desvendado...                                                                                          

Enquanto isso vamos mergulhando nesse fantástico universo de imensuráveis benefícios e muito prazer. Então, alla música!*

Liris Neumann, musicoterapeuta do Espaço Dom Quixote

 

Bibliografia
-Detroit, Jack,Neuroanatomia. 20° edição. Rio de Janeiro:Koogan,1994

-Moura Costa, Clarice, O despertar para o outro. São Paulo:Summus,1989

-Https://super. abril.com.br/ mundo-estranho/qual-o-instrumento- musical-mais-antigo- ja-encontrado
-Ruud,Even, Caminhos da Musicoterapia.Sao Paulo:Summus,1990

*à música

28 de Agosto de 2020

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